Wednesday, October 26, 2005

Referendo 2005

No último domingo passamos por um referendo a respeito da venda de armas de fogo e munição no nosso país.
Penso que um referendo para discutir esse assunto é um p*** falta do que fazer. Claro que gosto de ser participativa, de exercer aminha cidadania, mas esse assunto colocado dessa forma não tem muita lógica.
Vou me explicar. Acho um absurdo a forma como foi colocado o questionamento: "Você é a favor da proibição do comércio de armas de fogo e munição no Brasil?" Ô perguntinha mal formulada, totalmente pensada para manipulara a opinião pública. Imagina: se até as pessoas estudas tiveram que pensar duas vezes para apontar o seu voto, o que não aconteceu na cabeça da classe menos favorecida, sem estudo?
Outro ponto: As pessoas que votaram no SIM acham mesmo que viveríamos num mundo cor-de-rosa se esta opção tivesse ganhado?
Isso é pura ilusão...
O foco da violência não está na questão de um cidadão comprar uma arma de fogo. Para isso, ele teve que fornecer nome, documentos, comprovar residência fixa e até se submeter a testes psicológicos.
O foco precisa ser voltado para o assaltante que compra uma R-15 na favela por R$500,00. É aí que o bicho pega, porque a proibição não iria atingir o ladrão. Os bandidos continuariam assaltando, sequestrando e matando e, o pior, o cidadão não teria nem como se defender.
Depender da polícia? Que polícia? A mesma polícia corrupta que recebe propina para fingir que faz o seu serviço?
Só lamento. O principal ponto está aí. Se fosse oferecida à sociedade uma segurança decente, ninguém precisaria pensar em se defender sozinho, ninguém compraria uma arma e não seria necessário esse referendo.
Sim, penso que quem se presta a fazer até exame de sanidade mental para ter uma arma em casa esteja pensando em se defender nesse mundo cão em que vivemos.
Tá, vamos supor que o SIM tivesse vencido e que realmente as armas de fogo fossem abolidas do nosso país. A violência acabaria por aí?
Na verdade, teríamos de enfrentar referendos para proibir o comércio de facas, tesouras, serrotes, serras elétricas (por que não? Vai que acontece um massacre da serra elétrica...). Ah, e não podemos esquecer o referendo para proibir paus, afinal um torcedor morreu dias desses a pauladas. E um também para proibir remédios e produtos de limpeza, pois o número de acidentes por intoxicação é bem maior do que os causados com armas de fogo registradas...
Gente... A ingenuidade tem que acabar. A violência está no homem, no que a sociedade faz dele. Se alguém quiser cometer qualquer crime que seja, não é a falta de uma arma de fogo que vai barrá-lo.
Por isso o meu NÃO é também de protesto: protesto à falta de segurança que existe e obriga um cidadão ter que se defender sozinho; protesto à falta de vergonha dos governantes que acharam que poderiam manipular o povo mais uma vez; protesto pelas pessoas que fecham os ouvidos e não querem escutar o outro lado e poder realmente analisar a real situação em que se encontra o nosso país; protesto àqueles que não conseguem ver o real foco da violência.
Confesso que no início eu também achava que o referendo poderia transformar as armas de fogo em flores e era tão óbvio para mim que o sim deveria prevalecer que quando eu parei para refletir sobre os dois lados, eu tive raiva do meu analfabetismo político.
Não posso obrigar ninguém a mudar de opinião como eu mudei, mas posso deixar aqui esse relato para que as pessoas possam ter uma outra visão e compreender também o outro lado.

26/10/2005 - 10h