Sunday, November 06, 2005

A mais valia vai acabar, seu Edgar...

Esse é o nome da peça que acabei de assistir. É uma peça de um alto cunho político que dá margens à discussões para dias. Minha impressão da peça é a mais básica: A mais valia não deveria existir mesmo, pois não acho justo que o dono da empresa possa ficar com todo lucro da produção só porque teve a oportunidade de estudar mais.

Sei-lá, acho que tenho uma visão totalmente fantasiosa do mundo... Ainda acredito na igualdade e que ela deva existir mesmo na distribuição dos lucros. Não sei se esse é um pensamento marxista, socialista, comunista, capitalista, o caramba a quatro, a única coisa que sei é que esse é o pensamento da Paty, seja fantasioso e inexperiente, mas é o da Paty.

Talvez me falte experiência mesmo, conhecer o submundo, o que é passar fome, o que é estudar para poder ser alguém e cobrar bem por esse estudo. Talvez eu devesse conhecer Karl Marx e todos os outros “caras” que falaram alguma besteira que ficou conhecida e acabou por dividir opiniões... Talvez eu possa continuar sendo essa aberração, pois é assim que eu me sinto quando vou contra a opinião de todos, sem argumentos sólidos, somente com os meus pensamentos.

Você escuta: “É justo um cara que se acaba de beber num bar ganhar o mesmo que alguém que estudou muito?”

Eu respondo com os questionamentos que trago na mente: ele estaria num bar se tivesse a real recompensa pelo seu trabalho de 8 horas e pudesse dar o devido conforto à sua família? (Isso é, se ele tiver um trabalho.)

Você escuta: “É justo que um gari sem estudos ganhe o mesmo que um administrador pós graduado, doutor e mestre?”

Mais uma vez eu respondo: por que não, se ele também está prestando tanto serviço à sociedade quanto o outro (e às vezes até mais)?

Além do mais, esse assunto acaba virando um ciclo vicioso: o gari ganha pouco, por isso não investe no estudo e por não ter investido no estudo ganha pouco.

Mas essa é uma forma indevida de se pensar pelo que eu escutei até agora. Achar normal a igualdade e fraternidade é anormal.

Não acredito que o homem nasce mau. A sociedade assim o faz. É pela falta de oportunidade que nasce o bandido, o drogado, o assaltante, o sequestrador. E o que é feito para mudar isso? Nada. Porque existe a incapacidade de se olhar do lado.

Cada um tem o seu papel na sociedade e a capacidade de modificá-la. Acho que é para isso que vale lutar. Se a minha forma de modificar o mundo deve ser com um pedaço de giz e lousa, é assim que eu vou lutar. Se a minha forma de modificar o mundo deve ser subindo num palco e mostrar o “outro lado” é assim que eu vou lutar.

Posso ter dito muita besteira até agora, mas são os questionamentos que andam na minha cabeça. Pensamentos de uma “eterna adolescente” idealista que se recusa a participar dessa mesquinharia e desse egocentrismo que assolam o mundo desde que o mundo é mundo.

Eu costumava achar que nasci na época errada, hoje me pergunto será que existe uma época para mim com meus pensamentos e questionamento infames?

O que eu tenho a dizer, as pessoas não querem ouvir. Estão preocupadas demais com seus umbigos para pensar a respeito e considerar sequer uma vírgula dessa loucura toda, por isso escrevo. Quem sabe algum dia, em alguma outra época que nem meus descendentes mais vivam, alguém leia e ache alguma lógica nisso tudo, pequena que seja, não importa.

Sofro por não ser escutada, me sinto sozinha num mundo irreal, mas não é este o destino de todo artista? Eu espero que não.

“Esse caminho que eu mesmo escolhi

É tão fácil seguir

Por não ter aonde ir

Controlando a minha maluquez

Misturada com minha lucidez

Vou ficar, ficar com certeza

Maluco Beleza”

Raul Seixas