Friday, May 16, 2014

O Canto do Poeta: Edson Bueno de Camargo


Edson Bueno de Camargo é um poeta contemporâneo, autor do livro "A Fome Insaciável dos Olhos" e participa do meu círculo de amizades. Gosto dos escritos dele porque sinto que ele escreve com paixão, suas palavras exalam sentimentos, todos eles. 

Deixo aqui a minha homenagem a este escritor e amigo através do poema abaixo que me tocou no momento em que li. A imagem que acompanha o poema também é dele. Obrigada por deixar que eu compartilhasse um pouquinho de ti no meu blog!


desconstrução

em que se dá 
a construção do suicídio
nos três aspectos do abandono
ocaso das horas 
silêncio do mundo
e ausência do verbo

a língua inflamada de vocábulos 
que não são ditos
pesada corrente 
que é o viver mesmo depois de morto (o sentido)

a palavra presa ao céu da linguagem
feito uma lanterna japonesa
um balão noturno antes da chuva
cintilâncias orgânicas 
verdes noturnas

todas as redenções estão perdidas
todos os pássaros voam com navalhas
que cortam o ar e as veias
em asas de ruflar cirúrgico

os corvos buscam
os corpos dependurados
abismados
encharcados de rios e de pedras nos bolsos

os chocalhos das cascavéis 
dizem um tanto
há algo indigesto no farfalhar das folhas
som lento de fogo se alimentando
de veneno fermentando nos dentes
vinho que nunca será bebido

na desconstrução do corpo
não há razões perceptíveis ou necessárias 

nunca houve de fato um sentido no mundo

by Edson Bueno de Camargo

(Conheça um pouco mais dos seus escritos clicando no nome dele)

Thursday, May 08, 2014

Friday, May 02, 2014

O Canto do Poeta: Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo é o meu poeta ultrarromântico favorito. Viveu em uma época onde morria-se cedo, sem conhecer as belezas do amor e as luxúrias da carne. As palavras eram lançadas ao vento cheias de um amor que nunca seria vivido e de desejos adolescentes que se perdiam no túmulo tão precoce.

O tifo levou muitos desses poetas na flor da idade, e talvez por nunca terem passado muito além dos 20 anos, não tiveram tempo de provar o fel da vida, o amargor de um coração partido. Mas também não tiveram a oportunidade de viver seus dias com o entusiasmo dos jovens que se julgam imortais. E foi justamente assim que eles se tornaram imortais, pelas palavras que registraram as lembranças do amor e da dor que nunca chegaram a viver.

Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de provir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas 
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

Álvares de Azevedo
(1831 - 1852)