Friday, June 10, 2011

O Suicida


O papel estava ali, encarava-o perguntando "Por quê?" O que dizer às pessoas que esperavam dele apenas a presença, o sorriso, um bom dia?

Perguntava-se como conseguiria explicar a todos o que passava dentro de si. Sua vida rodava dentro de sua cabeça, sua mão tremia, seu corpo suava apesar do frio lá fora.

Tinha sido uma criança feliz, espontânea. Tinha de tudo, era mimado por todos, visto ser filho único.

Viajava todo ano, a princípio com a família, na adolescência com os camaradas, agora, com a namorada.

Tinha seu escritório de contabilidade até bem sucedido, clientes assíduos, uns poucos inadimplentes, o que faz parte do negócio.

E agora? Agora estava naquela casa vazia, tentando se lembrar em que parte da vida começara a se sentir assim.

Lembrou-se da namorada e seus feitiços, a pergunta que o fizera balançar na sua decisão há tempos tomada.

- Quero você comigo, envelhecer contigo. Olha, você não me ama?

- Amo!

Deixou escapar sua resposta sussurrada "Com todas as forças do meu coração".

Linda! Ela é linda e o fazia sorrir apenas com a lembrança de seus olhos profundos, castanhos, vivos... Tão vivos!

Levantou-se, olhou pela janela, encarou o céu limpo de inverno, uma noite iluminada por uma lua cheia. Caminhou até a porta, segurou na maçaneta. Desistiu.

Voltou ao papel que o questionava incessantemente "Então por quê?

"O que vou dizer a ela?"

E o papel sorria irônico: "És uma vergonha para tua geração. Não tem motivos."

Exato! Qual é o motivo, a razão de estar aqui?

E a pergunta permaneceu sem resposta madrugada a dentro.

De manhã, a sombra na parede revelava o ato inevitável: um corpo pendendo do teto.

Na mão do pobre infeliz, o papel que exibia a melhor resposta que conseguiu dar:

"Eu te amo...
Mas não amo demais a mim mesmo!"

(Patrícia Augusto jun/11)

Exercício de Criação 3 Proposto pelo site Gambiarra Literária