Wednesday, April 20, 2011

A Hora da Estrela...

De um título tão bonito, surge uma tragédia. Infelizmente muitas pessoas só tem sua hora da estrela na hora da morte, como Macabéa, personagem franzina e de baixa auto-estima de Clarice Lispector.
Hoje presenciei a hora da estrela de uma pessoa. Desculpe, não queria falar de catástrofes ou tragédias, mas isso ficou martelando dentro de mim o dia inteiro.
Não sei porque a morte mexe tanto comigo, me deixa tão mal se, na verdade, eu acredito piamente que esta é a nossa hora de voltar para o nosso verdadeiro lar. Daí então me perguntam: Você conhecia? Era próximo?
Não, nem tenho idéia de quem era a pessoa, um idoso, atropelado por um ônibus, que recebeu os primeiros socorros ali, no asfalto quente das 11h da manhã e não resistiu. Mas não consigo deixar de pensar... não nele, que já foi decentemente recebido do outro lado segundo minhas crenças, mas na família que este ano receberá um ovo de páscoa muito amargo.
Não era apenas um idoso como trata o jornal. Era um pai, um marido, um avô. E é isso que me incomoda mais, pensar na dor dessas pessoas que perderam esse pai, esse marido, esse avô, por conta de um passo em falso, justamente tão perto de uma festividade.
E nessa hora a gente pensa nos nossos entes queridos. Aqueles que estão conosco na lida diária e toma consciência que eles também terão a hora da estrela, que nós também teremos a nossa...
O trânsito virou uma catástrofe por conta desse acidente. "Morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego.", diria Chico. E para a maioria das pessoas é somente isso mesmo: o incômodo que provoca atrasos, um dia a mais de trabalho para os oficiais, uma tragédia para os transeuntes.
E por que para mim vira um texto no blog?
Não sei responder.
Talvez eu seja demasiadamente detalhista, que não se contenta em focar apenas no ocorrido, mas deixa a mente viajar para além daquele momento presente. E isso acaba me incomodando de tal forma que precisam virar palavras e sair voando por aí.
Acho que era só isso mesmo que eu tinha pra libertar hoje... Espero que isso acalme um pouco meus pensamentos porque ainda tenho algumas aulas para encarar.
Volto amanhã com algo mais alegre e menos mórbido.

1 comment:

Marinho said...

ainda bem que nas riquezas de detalhe, você consegue nos passar esse tormento que te martelava de forma tão suave.
O senhor terá certamente seus leitores se juntando a familia dele com oração.
Você transformou a hora da estrela dele em nossa também.
Obrigado por compartilhar de forma tão linda esta passagem.
força minha amiga!