Friday, May 02, 2014

O Canto do Poeta: Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo é o meu poeta ultrarromântico favorito. Viveu em uma época onde morria-se cedo, sem conhecer as belezas do amor e as luxúrias da carne. As palavras eram lançadas ao vento cheias de um amor que nunca seria vivido e de desejos adolescentes que se perdiam no túmulo tão precoce.

O tifo levou muitos desses poetas na flor da idade, e talvez por nunca terem passado muito além dos 20 anos, não tiveram tempo de provar o fel da vida, o amargor de um coração partido. Mas também não tiveram a oportunidade de viver seus dias com o entusiasmo dos jovens que se julgam imortais. E foi justamente assim que eles se tornaram imortais, pelas palavras que registraram as lembranças do amor e da dor que nunca chegaram a viver.

Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de provir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas 
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

Álvares de Azevedo
(1831 - 1852)

1 comment:

Deise Daros said...

é engraçado ler tanto romantismo nele, sendo que viveu tão pouco, como você disse...
imagino eu, se tivesse vivido mais amores, como seriam suas obras...

beijos querida Paty