Inania Verba
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregado a tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava.
O pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a palavra pesada abafa a ideia leve,
Que, perfume e clarão, o refulgia e voava.
Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ah! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge e a mão que se levanta?
E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?
Olavo Bilac
Obs: o título em latim quer dizer "Palavras Inúteis".
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