Monday, August 19, 2013

Não será sempre assim


Não será sempre assim... Quando não for,
Quando teus lábios forem de outro; quando
No rosto de outro o teu suspiro brando
Soprar; quando em silêncio, ou no maior

Delírio de palavras desvairando,
Ao teu peito o estreitares com fervor;
Quando, um dia, em frieza e desamor
Tua feição por mim se for trocando:

Se tal acontecer, fala-me. Irei
Procurá-lo dizer-lhe num sorriso:
"Goza a ventura que já gozei."

Depois, desviando os olhos, de improviso,
Longe, ah, tão longe, um pássaro ouvirei
Cantar no meu perdido paraíso.

soneto: e. e. cummings
tradução: Manuel Bandeira
ilustração: Salvador Dali

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