Quando teus lábios forem de outro; quando
No rosto de outro o teu suspiro brando
Soprar; quando em silêncio, ou no maior
Delírio de palavras desvairando,
Ao teu peito o estreitares com fervor;
Quando, um dia, em frieza e desamor
Tua feição por mim se for trocando:
Se tal acontecer, fala-me. Irei
Procurá-lo dizer-lhe num sorriso:
"Goza a ventura que já gozei."
Depois, desviando os olhos, de improviso,
Longe, ah, tão longe, um pássaro ouvirei
Cantar no meu perdido paraíso.
soneto: e. e. cummings
tradução: Manuel Bandeira
ilustração: Salvador Dali
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