Friday, January 30, 2009

O Abismo


"Saltar ou não do abismo? O que se tem a perder além de mais alguns sonhos..."

Está ali, me encarando... O abismo sem fim. O abismo de sonhos perdidos na areia do tempo, o abismo de dias de felicidade eterna...
Sim, estão todos lá... Os sonhos, os dias felizes. Luto desesperadamente para manter nesse galho de árvore o que resta da minha fé...
Mas o que faço aqui se tudo que eu quero, pensei e sonhei está lá, nesse abismo?
Está ali, me encarando... Desafiando-me a ter a coragem necessária para alcançar todos meus planos novamente. Desafiando-me a arriscar um novo passo, a ceder e soltar o galho para que eu volte a confiar, a acreditar na vida...
Está ali... me encarando... Ensinando-me a coragem de ter fé, ensinando-me que com a vida não se brinca, porque em um dia se morre...
Está ali... me encarando... Mostrando-me que a vida é ter medo e mesmo assim enfrentar o dia. É se incomodar com a luz, mas não fechar a janela. É saber que perder-se também é um caminho. É saber que é com esses erros que se faz um Ser Humano!

Inspiração: Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres

"De Ulisses ela aprendera a ter coragem de ter fé – muita coragem, fé em quê? Na própria fé, que a fé pode ser um grande susto, pode significar cair no abismo, Lóri tinha medo de cair no abismo e segurava-se numa das mãos de Ulissses enquanto a outra mão de Ulisses empurrava-a para o abismo - em breve ela teria que soltar a mão menos forte do que a que a empurrava, e cair, a vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre. A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser Humano."

1 comment:

Luiza Callafange said...

Não não, as coisas não estão lá no abismo, estão em seus olhos, na sua mente, no seu coração. E são refletidas para lá porque é do ser humano projetar seus sentimentos, desejos e temores em algum lugar. Mas não é preciso pular no abismo para alcançá-los, eles estão conosco, podemos dar um passo para trás e tomar outro rumo - ou simplemente pular no abismo, para que depois que chegarmos ao fim do poço, podermos perceber que há sempre uma saída lá em cima.