Tem palavras que nos beijam como se tivessem boca. Como se tivessem mãos nos conduzem para o centro do salão e nos convidam a dançar com elas no mundo de sonhos esquecidos.
Como se tivessem pés, nos ensinam os caminhos em que nos perdemos na esperança de reencontrar os desejos perdidos, jogados pela janela em determinada altura da nossa viagem.
Tem palavras que nos tocam como se tivessem corpos para nos enlaçar na noite fria, nos proteger de uma solidão de momento.
Como se tivessem vida, nos envolvem no desejo ardente dos corpos que se tocam, se enlaçam, se abraçam, valsando na cama, no chão, no colchão, na parede, na rede. Palavras que se desmancham na gota do suor que exala o cheiro do amor no ar.
Tem palavras que se trancam, se fecham, se enclausuram dentro do coração. Estão cerradas a sete chaves para evitar qualquer devaneio ou surto de emoção que possa abalar a razão da vida quotidiana, o cinza das horas que correm na efemeridade do tempo.
Como pedra na praia que recebe o baque das ondas aos poucos se desmancham em pequenas porções de ilusão, criando miragens na imagem de uma vida perfeita, alheia aos sabores amargos do mundo, no sonho de um momento, um louco vacilo, uma vida em um minuto.
Tem palavras que se libertam em gritos de euforia, de tristeza, de felicidade, de angústia. Libertam-se, pois não foram feitas para serem aprisionadas.
Como borboletas saem voando e se multiplicando, ecoando pelos ventos até que todo sentimento seja exalado, exaurido, consumido para se extinguir totalmente do coração daqueles que as libertam.
Tem palavras que exalam o seu odor, como o perfume da mais divina flor, que nos carrega pelos vales e campinas onde nos entregamos ao ar puro de magia, eterna sintonia de amor.
Como a canção escrita pelo poeta, pena em riste, porta aberta, lançam sua melodia em notas musicais que buscam no ocaso a despedida do sol para o despertar da lua.
Tem palavras que, sob o cimento de uma lápide, resumem o sabor de toda uma vida em uma fria frase de efeito.
Como anjos nos libertam para que não mais sejamos escravos delas e possamos, enfim, viver tudo aquilo que tanto desejamos, sem mais gaiolas, sem mais prisões, sem mais considerações, sem mais palavras...
Ah, a magia de brincar com as palavras...
1 comment:
Tem palavras como essas suas, que nos fazem sorrir e deixam a gente lá no alto...
Linda, Paty!
Beijos!
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