Soneto
Busque Amor, novas artes, novo engenho,
Para matar-me e novas esquivanças;
Que pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que não tenho.
Olhai que de esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não tenho nem confrontos nem mudanças
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor, um mal que mata e não se vê
Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei o que, que nasce não sei onde
Vem não sei como e dói não sei porquê.
Luís de Camões
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