Thursday, March 27, 2008

Sobre ser Professora no sec. XXI

PLANEJAMENTO
Muito trabalho falta ser feito antes de anunciarmos nossa total incapacidade de progredir


Quisera eu dizer que a Educação nesse Estado é a melhor do país, que o governo lança estratégias de incentivo aos alunos e professores para que ambos façam da escola o seu segundo lar.
Quisera eu dizer que todos os alunos estão satisfeitos com os materiais enviados, os livros, a biblioteca bem suprida, as cadeiras e carteiras confortáveis que favorecem o seu ambiente de aprendizado.
Quisera eu dizer que os professores podem dedicar-se única e exclusivamente à escola pública onde trabalham, pois têm um salário digno que supre todas as necessidades e não precisam ficar desdobrando-se em dois empregos, ou duas escolas, pois seu trabalho é reconhecido, eles recebem o suficiente para estar a inteira disposição de seus alunos, sem contar que têm uma fartura de materiais para desenvolver seu trabalho.
Pois é... Sei que nenhum emprego é o paraíso, mas as coisas que acontecem dentro das escolas atualmente ultrapassa qualquer limite. E não dá para se ater a um só motivo... é tudo que influencia: a desmotivação dos professores, a falta de respeito e educação dos alunos, a falta de incentivo do governo.
Eu costumava ficar analisando a situação, tentando entender onde estava o problema...
Primeiro eu achei que o problema eram os alunos que chegam na escola sem a mínima noção de respeito ao espaço, ao professor e ao próximo.
"Educação vem de casa". Eu costumava ouvir isso quando era criança e isso foi de fato aplicado por mim, minha irmã, meus colegas... Agora veja o diálogo abaixo:

Professor: Menino, você fala assim com a sua mãe?
Aluno: Com a minha mãe eu falo pior!

Duvida que isso possa ser real? Sinto informar que fui testemunha ocular do fato. Como você ensina Educação e Valores Morais para alguém que não tem respeito ou consideração pela própria mãe?
Daí, depois de encontrar mais uma meia dúzia de respostas parecidas (ou piores) em cada uma das salas que a gente entra diariamente, a gente ainda escuta dos nossos governantes que os casos de violência nas escolas contra professores é mínimo e são isolados.
Pobre professora de Ribeirão Preto, espancada por um aluno de 14 anos em fevereiro desse ano... Ela deu o azar de tropeçar em um caso isolado.

Ah, então a culpa é do governo?
Eu diria que ele também tem a sua parcela de culpa. Ao invés de trabalhar com o incentivo, o governo insiste no castigo, criando recuperações paralelas aos sábados e no recesso escolar... Se ele investisse em aulas diversificadas para os alunos que mostrassem melhoria nas notas, que diminuíssem o índice de faltas, acredito que muitos iriam demonstrar muito mais interesse na escola.
Sem contar que essa história de recuperação não deixa de ser também um castigo para o professor... Que tudo o que quer é ter um salário digno e condições propícias de trabalho, materiais adequados e livros... É livros, porque a matéria de inglês não recebe livros, afinal eles são consumíveis e o governo teria de providenciar esse material todo ano.

Quem são os culpados, enttão?
Como quem? Nós os professores, claro!!! Nós, professores que aceitamos tudo calados, cada medida, cada convocação fora do nosso horário de trabalho. Nós, professores que trabalhamos 60 horas semanais para dar uma vida digna às nossas famílias. Nós, professores que perdemos a vontade de lutar por nossos direitos, porque estamos acostumados demais a sermos cobrados por nossos deveres... E os deveres dos alunos? E os deveres do governo? Quem cobra? Deveríamos ser nós, professores que deixamos de nos organizar para ir contra o que nos oprime.

Não é estar se fazendo de vítima, os fatos não estão só aqui, nesse simples relato de uma professora inconformada... Abra agora o Google e coloque "Professor Agredido", "Violência nas Escolas" e qualquer outro assunto sobre o que foi relatado aqui.

Quisera eu que tudo isso não passasse de um conto de ficção...

1 comment:

Marinho said...

seu texto é aflito, urgente, necessário. Seu amor pelas salas de aula, incontestável.
Sua desilusão por esse sitema, inegável ( e aqui entre nós, impossível ser de outra forma).
O que me vale dizer é que não pare de buscar a sua felicidade. Apesar de ser igual subir uma escada rolante enquanto está esta descendo. A gente nunca chega ao topo, mas isso não importa.
Tem certas coisas na vida, que o importante não é o fim último e sim, o caminho.
Vá em frente! E conte sempre comigo.
LYTMAF!