Friday, September 12, 2008

Domínio Público



"Ninguém me venha dar a vida,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferida,
que não me quero curar,
que estou deixando de ser,
e que não me quero encontrar,
que estou dentro de um navio
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim,
o dorso verde do mar
que busquei desde o começo
e estava apenas no fim.
Corações porque chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e corais.
Fim ditoso, hora feliz:
guardai meu amor sem preço
que só quis a quem não quis."

Cecília Meireles

Ah, Cecília, quanta poesia em tua vida.
Quanta angústia, querida,
quanta lágrima sofrida.

Ah, Cecília, quanto pranto banha teu rosto
envelhecido, enrugado desgosto
que amou, sonhou e choveu.

E nem no amor sorriu,
aceitou, se iludiu,
se entregou e preferiu as doces palavras.

Ah, quantas palavras roubaste-me
lançaste ao mar, ao vento
antes que eu pudesse laçá-las.

Na verdade, quisera eu, querida Cecília,
que estas palavras
pertencessem somente a ti.

Paty - set/08

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