Thursday, November 11, 2010

Um dia...


"Carros e mais carros... Um trânsito infernal, o sinal que abre e fecha e eu mal consigo me aproximar. Essas são minhas manhãs, meu caminho de casa para o trabalho. E esse é o trânsito do Km 18 da Via Anchieta. Nem sete da manhã, já vemos as pessoas que aproveitam esse momento para conseguir o seu sustento. Um vende chocolate, outro, carregadores para celular. Mas o que me chama a atenção é o que vem logo em seguida: duas pessoas circulando devagar por entre os carros - um homem que segura no braço de uma moça que para na minha janela e pergunta se posso ajudar o Lar de Cegos que se mantém com donativos... Justo nesse dia eu tinha 2 reais na carteira. Fiz um sinal negativo com a cabeça e eles seguiram o caminho.

O sinal fecha de novo. Pelo retrovisor, percebo as duas pessoas que continuam sua jornada tranquilamente. Já impaciente, olho ao redor e vejo o sol começando a despontar por entre as nuvens: “Que bom, um dia bonito!” e levanto o vidro com insulfilme porque a luz do sol incomoda meus olhos.

“Meus olhos, Graças a Deus eu os tenho”, penso e observo mais uma vez aquele rapaz que não deve ter mais de 25 anos. Como serão os dias dele? E as noites? Serão diferentes? Como será que ele imagina as cores? O local onde ele está? Percebe ele que pode até ser perigoso ficar vagando assim por entre os motores impacientes diante daquele semáforo? Será que ele consegue imaginar como é o céu se abrindo após uma tempestade? Como será para ele o Sol?

Vi o sinal abrir e segui meu caminho, mas abri a janela do carro para não perder mais nenhum detalhe das cores daquele dia que estava apenas começando."


Esse é um exercício de escrita proposto no blog Gambiarra Literária que você pode encontrar aí ao lado... passa lá, tem bastante coisa interessante!!!

4 comments:

Mare Soares said...

Paty, isso foi cruelmente triste. Por favor, diz que é mentira.

Paty Augusto said...

Tem ficção e vida real misturado no texto... os vendedores, o cego e sua acompanhante são reais... ah, e o transito também...
Talvez a atitude da personagem também deve ser real para muitos que passam por ali... e eu espero que eles percebam o lindo nascer do sol que temos todo dia e abram suas janelas...

Marinho said...

O mais importante da história é que você no fim abre as janelas para não perder as cores.
Que a gente possa sempre fazer isso.
Um texto que me fez pensar, meditar, lacrimejar.
Quantas janelas fechei por temer o desconhecido. E quantas cores perdi...
Mas sempre tem uma esperança ( que pra vc, pode ser amarela cor do sol)
É só abrir a janela.
Vamos!

Deise Daros said...

Concordo com o Luiz, o mais lindo é que você buscou as cores e não deixou o caos do transito acabar com seu dia...
Grande beijo pra vc, Paty!